Barioná

O Teatro do Ourives vai apresentar em Dezembro o seu espetáculo "BARIONÁ, ou o jogo da dor e da esperança" , um Mistério de Natal segundo Jean Paul-Sartre, com encenação de Júlio Martín da Fonseca, na Sala Principal do Teatro da Trindade.

De 8 a 23 de Dezembro
Às 5ªs, 6ªs e Sábados às 21h. e aos Domingos às 16h.

Às 6ªs feiras haverá uma sessão diurna para escolas
(com marcação prévia)

Vendas | Reservas

nas Bilheteiras Trindade:
Horário: Terça: 14h às 20h
Quarta a Sábado: 14h às 22h
Domingo: 14h às 18h
Tel: 213 420 000 | 92 798 28 34                      
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Como chegar:
metro » baixa-chiado
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eléctrico » 28

De: Jean Paul-Sartre.
Encenação e dramaturgia: Júlio Martín da Fonseca.
Figurinos: Sílvia Perloiro
Elenco: (Barioná) José Nogueira Ramos, (Sara) Sara Ideias, (Baltazar) José Simão, (Lelius) José Sebastião, (O Publicano/Simão) Gonçalo Sarávia, (O Anjo) Ana Sofia Santos, (O Feiticeiro) Ricardo Abril, (Caifás) Manuel Vieira, (Jerevhá) Nuno Cortez, (Shalam) João Pires, (Paulo) Nuno Torres, (Mulher) Célia Santiago. Figuração: Alexandra Pato, Diana Resende, Eduardo Pereira, Hermínia Resende, João Ramos, Maria Muge, Mariana Fonseca, Sofia Caetano e Vitor Procopio.
Produção executiva: Isabel Avillez - Sofia Sá Lima
Produção: Duc in altum | Teatro do Ourives
Apoios: Associação Vale de Ácor
Agradecimentos: Dr. Luís Oliveira Martins; Centro Desportivo Católico de Portugal; Francisco Marques - Théâtre de L’ Arc-en-Ciel; Silvina Pereira - Teatro Maizum
Classificação: M/12
Tlm: 91 910 26 70


Em Dezembro de 2010 o Teatro do Ourives estreou o seu segundo espetáculo com um texto desconhecido de Sartre.
"Barioná" revelou-se um texto belíssimo que se transformou em palco numa mensagem de esperança para as centenas de pessoas que nos visitaram nas 12 apresentações que fizemos numa capela inesperada na Rua de São Domingos à Lapa.


Sobre "Barioná"


O texto é de (para muitos um improvável) Jean-Paul Sartre e foi representado pela primeira vez num campo de prisioneiros, em 1940, em plena II Guerra Mundial.


Sobre a peça, escreveu o próprio Sartre, em 31 de Outubro de 1962:

O facto de me ter debruçado sobre o tema da mitologia do cristianismo não significa que a direcção do meu pensamento tenha mudado nem sequer por um instante durante o cativeiro. Tratava-se simplesmente, de acordo com os sacerdotes prisioneiros, de encontrar um tema que pudesse tornar realidade, nessa noite de Natal, a união mais ampla possível entre cristãos e não crentes.”

Este mistério da Natividade foi escrito e levado ao palco no campo de prisioneiros Stalag 12D, em Dezembro de 1940, por um Sartre, nas palavras de Bernard-Henry Lévy “decididamente fiel ao seu papel de animador entusiasta”.
Durante muito tempo não se encontrou o texto. Durante muito tempo, Sartre proibiu a sua representação, à excepção de uma edição-lembrança de quinhentos exemplares, fora do circuito comercial, nos anos 60 do século XX.
Hoje já dispomos deste texto, que é a sua primeira peça de teatro. Assim como de alguns relatos dos protagonistas deste momento histórico de dor e de esperança.
Segundo o testemunho do Padre Marius Perrin, companheiro de Sartre no cativeiro:

Depois de Barioná, tudo mudou. Foi como se Sartre tivesse introduzido um ‘vírus’. Foi como se, graças a ele, ‘um longo período de incubação’, em que estivemos impedidos de nos revoltar, tivesse finalmente chegado ao fim.

Também para Sartre, Barioná representou – de acordo com Bernard - Henry Lévy – “a verdadeira viragem na vida e na obra (…) é desta experiência do Stalag e da elaboração da peça nesse local, que data o nascimento de um segundo Sartre, efectivamente messiânico, optimista, engagé num sentido novo do termo e que volta subitamente as costas à bela metafísica pessimista que era como um salvo-conduto, uma vacina, contra os desvarios políticos.

Encontramos nesta obra uma faceta menos conhecida de Sartre, mas sempre presente subterraneamente, uma herança discreta que lhe vem dos avós e continuada pelos pais através de uma mistura católica e protestante.
Em As Palavras ele anota: “Escreve-se para os seus vizinhos ou para Deus” e ele desde muito cedo parece ter tomado “o partido de escrever para Deus a fim de salvar os seus vizinhos”.
Segundo o testemunho do Padre Marius Perrin “os homens de Barioná correm talvez para a sua morte (…) para que a esperança dos homens livres não seja assassinada”.
E este Mistério de Natal, de Jean-Paul Sartre, é certamente um belíssimo e comovente convite “à descoberta fulgurante da liberdade.
Em O Século de Sartre, Bernard-Henry Lévy faz a sinopse da peça:
“O texto conta a história de uma aldeia da Judeia sob ocupação romana.
Conta como, dado que os Romanos tinham decidido aumentar os impostos, o chefe da aldeia, Barioná, exorta os seus concidadãos a ripostar deixando de fazer filhos.
Mas eis que a sua mulher Sara lhe anuncia, que está precisamente grávida – e eis que, exactamente no mesmo dia, da aldeia vizinha de Belém chega a notícia do Nascimento de um outro recém-nascido, “enfaixado e deitado num presépio”, que os Magos e os feiticeiros creditados anunciam como sendo o Messias.
Que irá fazer Barioná? Irá, como pensou inicialmente, matar este recém-nascido, cujo futuro, crucificação e ressurreição foram vaticinados pelo feiticeiro da aldeia? Ou irá, ao invés, converter-se e protegê-lo da violência dos Romanos que, alarmados pela agitação que reina na região, decidiram também suprimi-lo.
Depois de reflectir, Barioná decide proteger a criança. Sacrificando a sua vida e a dos seus aldeões para proteger a do pequeno Messias, ele aguentará os Romanos até que Maria, José e o seu recém-nascido tenham conseguido escapar. E a Sara, que se despede numa derradeira cena comovente, também lhe diz que mudou de opinião quanto a eles e que, por conseguinte, quer que ela dê à luz o seu filho e que lhe diga, à hora da nascença, que o seu pai morreu na alegria!”

Em 2005, por ocasião do centenário do nascimento de Jean-Paul Sartre, a editora Gallimard publicou uma edição comemorativa do teatro completo do filósofo francês.
Esta obra incluiu pela primeira vez o drama Barioná, a primeira peça de teatro escrita pelo autor. A peça foi representada três vezes no Stalag 12D, em Tréveris, na Alemanha – onde o autor esteve preso – nos dias 24, 25 e 26 de Dezembro de 1940, e foi presenciada por cerca de dois mil prisioneiros de cada vez.
Em apenas seis semanas, Sartre não só escreveu a obra, como ensaiou um dos personagens – o Rei Mago Baltazar –, dirigiu os actores e supervisionou a fabricação do cenário e figurinos.
Numa das suas cartas a Simone de Beauvoir, escreveu:

Seguramente devo ter talento como autor dramático: escrevi uma cena do anjo que anuncia aos pastores o nascimento de Cristo, que deixou a todos sem respiração (…) inclusivamente a alguns saltaram-lhes as lágrimas.
Parece que fiz um Mistério de Natal muito comovente, ao ponto de alguns dos actores, ao declamarem, lhes saltarem as lágrimas.

Esta representação teve como origem o desejo e a autorização de celebrar no campo de prisioneiros de guerra, a Missa do Galo. Esta notícia e a relação de mútuo respeito entre Sartre e um grupo de padres católicos – Marius Perrin, o dominicano Pierre Boisselot, que exercia a função de capelão do campo, o jesuíta Maurice Espitallier e o padre Henry Leroy – levaram a que ele tomasse a iniciativa de propor a junção do sagrado e do profano: “Porque não ressuscitamos a tradição dos Mistérios que antes se celebravam e nos quais todos podem participar de alguma maneira?
Uns anos mais tarde, esclarecendo esta ideia, escreve:
A minha primeira experiência teatral foi particularmente afortunada. Enquanto estive preso na Alemanha em 1940, escrevi, pus em cena e interpretei uma obra de Natal, a qual, conseguindo esquivar a vigilância do censor alemão, através de símbolos simples, se dirigia aos meus companheiros de cativeiro (…) naquela ocasião, ao dirigir-me aos meus companheiros por cima das luzes das gambiarras e falando-lhes desde a sua condição de prisioneiros, vi-os de repente tão realmente silenciosos e atentos que compreendi o que o teatro tinha de ser: um grande fenómeno colectivo e religioso.